Por que é difícil ter acesso às linhas de crédito no Brasil?

Em um cenário econômico cheio de desafios, principalmente após os impactos da pandemia e pela alta taxa de juros, muitas empresas brasileiras enfrentam dificuldades ao tentar acessar linhas de crédito.
Poder recorrer ao crédito é fundamental para o crescimento e a sustentação de vários negócios, de diversos portes. No entanto, a realidade é que boa parte das empresas não conseguem obter esse suporte financeiro.
Com um ambiente regulatório complexo, devido às desigualdades regionais, excesso de burocracia, concentração bancária, entre outras questões, surgem a dúvidas: por que, exatamente, é tão difícil ter acesso as linhas de crédito no Brasil? E quais são as alternativas disponíveis para superar essas barreiras?
Continue a leitura para saber!
As linhas de crédito são tipos de produtos financeiros disponibilizados por instituições bancárias e financeiras, que oferecem uma quantia em dinheiro que pode ser usada por um solicitante, seja pessoa física ou jurídica.
Normalmente, esses recursos são destinados para:
Entre as muitas vantagens que a obtenção de linhas de crédito pode proporcionar para negócios, de todos os portes, estão:
As condições de acesso as linhas de crédito para empresas no Brasil são impactadas por elementos que determinam o custo, a disponibilidade e as condições de financiamento, influenciando diretamente a capacidade das organizações de obterem recursos.
São exemplos de fatores determinantes:
Quando a Selic está alta, os juros dos empréstimos e financiamentos também tendem a ser mais elevados, tornando o crédito mais caro para as empresas.
Essa situação ocorre porque a taxa serve como referência para todas as taxas de juros da economia, influenciando desde empréstimos pessoais até financiamentos empresariais.
A avaliação de risco das empresas é feita por agências de rating, que analisam a capacidade de pagamento das companhias.
Empresas com melhores ratings de crédito são vistas com menos riscospelos bancos e, portanto, conseguem negociar melhores condições de financiamento, como taxas de juros mais baixas e prazos de pagamento mais longos. Por outro lado, uma empresa com rating enfraquecido apresenta mais riscos, o que resulta em taxas ajustadas conforme seu comportamento.
Essa avaliação influência, no fim das contas, o custo do crédito e a acessibilidade das linhas de financiamento.
Crises econômicas internacionais, nacionais ou incertezas políticas locais podem aumentar os spreads bancários, que são os acréscimos sobre a taxa de juros básica cobrados pelos bancos para compensar riscos adicionais.
Em tempos de instabilidade, os bancos tendem a se tornar mais cautelosos, restringindo as linhas de crédito ou elevando os custos.
O BNDES, por exemplo, já criou programas de crédito destinados a pequenas e médias empresas, oferecendo condições mais favoráveis.
Porém, é importante frisar que mesmo com esses programas, nem todas as empresas conseguem acesso as linhas de crédito, evidenciando a necessidade de políticas mais inclusivas e abrangentes.
Fintechs utilizam tecnologias avançadas para oferecer soluções financeiras inovadoras e mais rápidas, muitas vezes com menos burocracia.
Apesar disso, grandes empresas ainda dependem majoritariamente de grandes bancos e instituições financeiras tradicionais para suas necessidades de financiamento de maior escala, devido à complexidade e volume de recursos envolvidos.
O acesso ao crédito no Brasil é uma questão complexa devido a diversos desafios estruturais e econômicos que dificultam a obtenção de financiamento pelas empresas, como:
As altas taxas de juros no Brasil são um dos principais entraves ao acesso de linhas de crédito.
Elas aumentam o custo do financiamento para as empresas, tornando os empréstimos e financiamentos menos acessíveis e mais onerosos, impactando principalmente negócios de menor porte e com menor capacidade de oferecer caução.
Os processos burocráticos envolvidos quase sempre são demorados e complexos, exigindo uma série de documentos e garantias que, muitas vezes, são difíceis de serem cumpridos pelas empresas, especialmente as pequenas e médias.
De acordo com a pesquisa da Fiesp/Decomtec, entre as 403 empresas industriais que buscaram crédito do BNDES até 2017, 55% obtiveram aprovação (incluindo operações de menor valor com cartão BNDES), enquanto 45% não conseguiram acesso ao financiamento.
As diferenças econômicas e sociais entre as diversas regiões do país influenciam a disponibilidade e as condições de financiamento.
Regiões menos desenvolvidas muitas vezes enfrentam maiores dificuldades para acessar crédito, devido à falta de infraestrutura financeira e à menor presença de instituições bancárias.
A falta de concorrência entre os bancos pode resultar em condições menos favoráveis para as empresas, como taxas de juros mais altas e menos opções de financiamento.
No ano de 2023, 59% das operações de crédito no Brasil são controladas por quatro maiores bancos brasileiros.:
A taxa vem diminuindo ano a ano, desde 2017, mas ainda é considerada alta.
Além disso, a avaliação de risco das empresas muitas vezes é feita de forma conservadora pelos bancos, dificultando a obtenção de crédito para empresas consideradas de maior risco.
A política brasileira de segurança ao crédito é fundamentada em diversas ferramentas que têm como objetivo:
Uma dessas medidas é o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), que oferece uma camada adicional de proteção aos investidores e credores, reduzindo os riscos associados às operações de crédito. Segundo o BNDES, o fundo é voltado para:
Além disso, o país possui programas de crédito subvencionado, que são linhas de financiamento com condições especiais, como taxas de juros mais baixas e prazos de pagamento mais longos, direcionados especialmente para setores estratégicos da economia.
Os Empréstimos Diretos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também desempenham um papel importante na política de segurança ao crédito.
Mas, outro ponto são as políticas de garantia do Tesouro Nacional, que atuam como garantidoras em operações de crédito, proporcionando uma segurança adicional aos credores e investidores, e são muito importantes para garantir a solidez e a confiabilidade do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
As empresas que enfrentam dificuldades no acesso ao crédito tradicional têm à disposição algumas alternativas de financiamento que podem atender às suas necessidades de capital de forma eficiente, como:
São formas de investimento em que empresas especializadas investem capital em empresas em estágio inicial (venture capital) ou em empresas já consolidadas (private equity).
Essas modalidades de financiamento podem ser atrativas para empresas que buscam recursos para expansão, inovação ou reestruturação.
Os FIDCs são fundos de investimento que adquirem direitos creditórios, como recebíveis de vendas a prazo, duplicatas, contratos de prestação de serviços, imóveis, entre outros, e os transformam em cotas para investidores.Empresas que possuem recebíveis podem recorrer a essa alternativa para antecipar seus recebimentos e obter capital de giro.
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Trata-se de uma forma de financiamento coletivo em que várias pessoas físicas ou jurídicas contribuem com pequenos valores para financiar um projeto ou empresa.
É uma alternativa que vem se tornando mais popular para startups e empreendimentos inovadores, principalmente, que conseguem captar recursos de forma descentralizada e sem a necessidade de garantias tradicionais.
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